25 de junho de 2012

Mulheres divorciadas com filhos


A minha experiencia com mulheres divorciadas com filhos. Antes de mais, gostaria de explicar que nada tenho contra estas últimas: se não fosse, não me teria interessado (e vice-versa, naturalmente). Comentários que tantas vezes ouço como “lá estão os estigmas dos homens contra mulheres com filhos” ou “vem com “brinde”, foge”, não tem lugar aqui. Mas terão estas observações, chamemos-lhes assim, alguma razão de existir?

Comecemos pela última, tão comum. No caso de um homem solteiro, é evidente que nada ajuda em certos pontos da relação (com intenções sinceras). Duas pessoas, quando se conhecem, precisam de tempo para se conhecer, de passarem tempo juntos, de passear, viajar, ir as compra, ao cinema, estarem deitados no sofá a verem um qualquer filme. Simples banalidades, que obviamente podem ser feitas em conjunto, mas limitadas pela presença de alguém que para o elemento feminino é primordial – o(s) filho(s).

Uma relação precisa de tempo para adquirir maturidade. Momentos, loucuras, romance…Depois, noutra fase da vida viriam os filhos, numa evolução natural da relação do casal. O passo seguinte, vá.  

Mas não. Há um filho. Ou mais. E com isso, horários, dias em que “vai para o pai”, escola, idas ao colégio, ida ao médico, etc.

Um obstáculo a superar? Sem dúvida. Mas a dois. Eis a questão: Será que estão os dois dispostos a isso?

Escrevo agora sobre a minha curta experiência. Foram, no total, quatro, entre os 27 e os 41 anos, com filhos entre os 6 anos e os 12. Incomodou-me? Óbvio que seria sempre limitador, pelas razões acima descritas. Mas “avancei”. Gostei, quis tentar uma relação.

E aqui começa o pesadelo.

Não pelos miúdos – sempre gostei de miúdos, tenho uma família enorme, sempre me habituei à presença dos pequenos rebeldes.

A questão central, que me despertou reflexão foi – e continua a ser - os motivos do “falhanço”, todos semelhantes. E num intervalo de idades representativo: 27 aos 41, já referido. Em comum? Um enorme medo de saírem do seu mundo, da zona de conforto que criaram após o divórcio. Não se conseguem “dar”, por mais que tentemos. Afundam-se nos seus medos, na possibilidade da relação falhar e vir a sofrer outra vez. Revelam, passado pouco tempo, as consequências não ultrapassadas de um casamento falhado. E fecham-se. Concentram-se nos filhos, na sua educação. O que está correcto: os filhos são o que de mais importantes temos na vida. Não sou pai, mas não tenho dúvidas do sentimento único da paternidade.

O que não está correcto é desligarem-se a sua vida amorosa e mesmo social. Ou porem um escudo à sua volta. Esquecerem-se que também são pessoas, que também precisam de uma atenção e carinho que só um companheiro lhes pode dar. Erguem uma enorme muralha à sua vota, com um fosso no meio. Um fosso pequeno que rapidamente se ultrapassa. Ou seja, os primeiros tempos. Mas quando chega a altura da relação se tornar, naturalmente, mais séria, eis que chegamos a uma qualquer muralha medieval, intransponível. Todo o passado vem ao de cima, e do céu, caímos para a terra.

Ou seja, se alguém se aproxima de vocês, interessados, se mostrarem interesse em conhecer a vossa filha, de agirem (ou parecer agir) de uma maneira consciente e responsável, eis que as portas se fecham com toda a violência. Mas então, que seja o mais rapidamente possível, porque de pessoas indecisas e que não estejam capazes de dar uma hipótese a uma relação, é algo que verdadeiramente nos inquieta só de pensar apenas sequer nesta possibilidade.

Senhoras, as pessoas não foram feitas para ficarem sozinhas. A teoria do individualismo não tem qualquer fundamento. Não podemos negar a existência da convivência amorosa entre homens e mulheres. Eis a radicalização do individualismo, apresentada pela Filosofia como a característica principal da pós-modernidade: a afirmação do indivíduo como único princípio sustentável. Ou seja, a fragmentação dos valores é assumida, teoricamente, como um traço importante dos processos de diferenciação e individualização. A ideia do indivíduo como horizonte último de referência ética e sociopolítica levanta inevitavelmente questões como a da relação do indivíduo com a sociedade, da existência de valores éticos universais ou dos limites do tolerável (colocados pela referência à tolerância como respeito inquestionável pela diferença). A negação de toda a historia da Humanidade. Uma perfeita idiotice.

Confuso? Simples: as pessoas não nasceram para ficar sozinhas. E não vou cair na tontice do “mais vale só que mal acompanhada”, “não vou estar com alguém só porque sim”, “só se me apaixonar outra vez”. As pessoas têm de estar verdadeiramente bem sozinhas, sem estigmas e feridas mal curadas. E não afastarem-se de tudo e de todos, limitarem-se a um meio fechado e limitado, em todos os sentidos da palavra. Se de facto não conseguem ultrapassar os vossos-mais-do-que-legítimos-problemas, procurem ajuda. Ou, se conhecerem alguém que, pelo menos no contacto inicial, vos preencha, dêem uma oportunidade.

Até porque os vossos adorados filhos irão um dia crescer e amadurecer, e a vossa ligação física será naturalmente menor. São filhos e companheiros, mas não são pais. Mais ano, menos ano, dirão “mãe, vou sair a noite” ou “vou passear com uns amigos”. E ai, nesse corte umbilical, irão pensar no que irão fazer no resto das vossas vidas. E quanto mais tarde, mais difícil. Falo agora como alguém cujos pais se separaram passadas décadas de casamento. Uma das partes, apesar das insistências, não deseja conhecer mais ninguém. Naturalmente fruto de uma geração ultra conservadora, é uma decisão que se respeitar, mas que revela egoísmo. Porque não se deve envelhecer sozinho. Não estou certo se ao fim de algumas décadas de anos de casamento ainda olharei para a respectiva com a mesma paixão. Mas não me preocupo. Porque, como tudo na vida, a relação muda, e provavelmente nessa altura procuraremos diferentes qualidades, como uma companheira para envelhecer juntos.

Porque esta negação corta-nos algo que nos será essencial ao longo da vida – alguém que nos acompanhe. Que, em falta, “sobrará” para os filhos. Claro que estes, se forem bem formados, estarão sempre lá. Mas não devem servir de “muleta”. Porque é injusto. Para todos.

Ps. Não generalizo. Nada é generalizável. Conheço mães solteiras fantásticas, com uma atitude perante a vida que até me faz corar. Escrevi este post porque notei que os motivos do “falhanço” foram todos idênticos. Coincidência ou será da minha pessoa? Não sei. Fica o testemunho e a crítica. Que vale o que vale.

Agent Barney


3 comentários:

  1. Tem toda a razão...quando reparei, tarde demais, tinha perdido alguém de quem gosto e senti-me mais sozinha que nunca...
    Concordo mesmo, não fomos feitos para estar sozinhos, de maneira alguma...
    Obrigada pelo post

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    1. Sílvia, é a minha perpectiva. Como referi no post, vale o que vale.

      AB

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  2. Excelente perspectiva, exímia leitura dos factos, magnífica afirmação..."As pessoas não nasceram para ficar sozinhas!" É mesmo verdade. E quem diz o contrário é porque se esconde...se esconde de uma realidade inegável. Gostamos de estar, conviver, existir e mesmo a pessoa mais introvertida anseia por uma companhia que a compreenda, que partilhe os mesmos gostos, ideias, objectivos, sonhos...uma única pessoa que seja, mas que esteja ali. Adoro a minha companhia, adoro momentos só meus, em que não tenho que me preocupar com nada nem ninguém...mas depois desses momentos...ai de mim que não tenha aquela pessoa do meu lado. Deixem-se ser a companhia perfeita de alguém...principalmente quando esse alguém pode ser a vossa companhia perfeita!...Os filhos...desde que educados num contexto que o valorize, hão-de estar sempre lá, vão ser sempre filhos, amados e que vos amam, mas um dia...também eles vão deixar-se ser a companhia de outra pessoa e aí...acontece o inevitável. Sejam felizes...!

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