17 de fevereiro de 2012

As lições que nunca aprenderei

Quando andava no 5º ano, o miúdo mais feio de colégio pediu-me para andar. Eu não sabia o que isso era e não quis assumir a minha ignorância mas, aos 10 anos, já era esperta o suficiente para perceber que havia ali marosca e que se fosse uma questão de caminhar ao meu lado ele não me teria perguntado. E foi assim que decidi perguntar a alguém o que é que isso era antes de dar uma resposta definitiva e lhe disse " Vou Pensar".

Depois disto, toda a gente me veio perguntar se eu era namorada do Nuno, o ranhoso do fato de treino. Eu, muito atrapalhada, ia dizendo que não enquanto tentava explicar porque é que não recusei o pedido directamente.

Todos sabemos que os miúdos, quando querem, conseguem ser muito maus; os meus amigos e outras crianças que eu mal conhecia não eram excepção e durante 1 mês levei todos os dias com a piadinha "Onde é que está o teu namorado?". Até que se cansaram.

Acho que o que os demoveu foi o meu ar impávido e sereno, mesmo quando cantavam "olha os namorados, primos e casados", apesar de estar na desfeita por dentro. Todos sabemos o impacto que  pode ter numa criança de 10 anos que o resto da escola pense que somos namoradas do ranhoso mais feio de todos.

Dizem que o que não nos destroi, torna-nos mais fortes e esta história, por mais ridícula que possa parecer, ensinou-me bastantes coisas. Aprendi que não devo ser orgulhosa e que não devo ter vergonha de dizer " Não sei o que é isso". Se o tivesse feito na altura e tivesse perguntado ao ranhoso as suas reais intenções teria-me poupado a muitos desgostos. Também aprendi que, aconteça o que acontecer, nunca devemos perder a nossa dignidade - está claro que se eu tivesse chorado, tivesse perdido a cabeça e dado um par de estalos a alguém, tivesse gritado ou reagido como uma louca, em vez de 1mês de calvário teria que ter suportado 7. Mas, a lição mais importante que retirei disto tudo é que as pessoas esquecem-se. Tenho a certeza que já nem o ranhoso se lembra desta história...

Mas se as pessoas se esquecem porque é que nós não? Obviamente, não me refiro a esta história. Mais de 20 anos depois tenho outras tantas para contar em que, por minha culpa ou inadvertidamente, me meti numa alhada que, tempos depois, se vem sempre a revelar uma história sem interesse.

A minha dúvida é porque é que sempre que nos metemos numa alhada, fazemos um filme na nossa cabeça e andamos às voltas com um tema que não tem interesse nenhum? Não seria mais fácil fingir que não é nada connosco? Como eu fiz quando me vinham perguntar pelo meu namorado...

Special Agent Drama


ps: Ranhoso, se me estás a ler e te reconheces nesta história, mil desculpas!!!! No hard feelings....espero!

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