14 de dezembro de 2011

As rugas são o mapa da nossa vida

Sei que um dia daqui a 40 anos vais olhar o meu corpo, não com a sensualidade que hoje vês através do teu olhar, mas com o amor que ele irá carregar. Vais olhar para cada ruga, para cada estria, vinco ou celulite, como um mapa desenhado da vida que vivemos juntos. Vais percorrer com os olhos cada milímetro, que tão bem conheces e que foste vendo a vida marcar, como etapas que foram vividas e que o corpo não quer esquecer.
Vais conseguir ver toda a nossa história e apesar de já não ser aquele corpo sexy que tantas vezes quiseste despir para te perderes em noites de amor, vais olhar e sentir um amor mais profundo, uma ligação mais intensa, como se eu fosse uma extensão daquilo que tu és.

Lá, estarão gravadas todas as vezes que engordei porque estava feliz, e todas as vezes que emagreci de tristeza. Sentirás o alto na perna, daquela vez que, ainda adolescentes, quando nos chateámos e eu virei costas para me soltar de ti e bati de encontro a um banco que estava mesmo ao nosso lado. Conseguirás ver a queda que demos juntos a dançar no nosso casamento, quando me fizeste rodar sobre mim mesma e te esqueceste de me amparar. A cicatriz que me atravessa o lábio superior, da vez que bati de encontro ao móvel, enquanto fazíamos as mudanças para a casa nova. A marca na barriga, que o nosso terceiro filho deixou, por ser tão preguiçoso esqueceu-se de dar a volta e ali ficou, sentado, à espera que o tirassem. Estarão gravadas nos meus olhos, as noites que chorei por ti com medo de te perder, e as noites que chorei pelos nossos filhos, por não os poder sempre proteger. Nas faces, todas as gargalhadas que soltei e as alegrias que vivi. Na testa as preocupações que fui tendo, e que tu, estiveste lá, ao meu lado. O pescoço que leva o peso de todas as tristezas, preocupações e alegrias que a cara vinca. As mãos que te seguraram todos os dias da nossa vida com amor e que estarão a segurar os nossos netos, para os apoiar nos primeiros dias do resto da vida.

Nesse dia, daqui a 40 anos vou ver-te através do espelho a espreitar o meu corpo despido, com o tempo nele marcado, e não me vou sentir envergonhada, porque a tua expressão vai estar coberta de amor, de ternura e de nostalgia de uma vida inteira a meu lado. Eu transportarei comigo o mapa da minha e da extensão da tua vida, que o tempo foi transformando. E é nessa altura que percebemos que a beleza não está na perfeição e na pele lisa sem história, mas na história que o tempo deixa para sempre gravada em nós.





Special Agent Naughty

1 comentário:

  1. Loved it...e por momentos achei que me estava a ler.
    Kiss you

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