27 de dezembro de 2011

Pago 79 cêntimos para acabar com ilusões

Ainda me lembro da dificuldade em comunicar com um namorado que tive na adolescência, cuja mãe era a mais fiel devota da anterior namorada. Como não havia telemóveis, era preciso ligar para casa e como eramos adolescentes, era preciso ligar para casa dos pais. E, neste caso, era sempre a mãe-que era uma antipática-que atendia. Posto isto, sobra dizer que nunca lhe telefonava.

Entretanto os tempos mudaram, todos comprámos telemóveis e as comunicações tornaram-se mais fluídas. Mas não foram só as comunicações que beneficiaram de melhorias relevantes. O principal beneficiário destas inovações foi o controle.

De um dia para o outro toda a gente sabe onde é que andamos e o que é que estamos a fazer: " Tou, onde é que andas?" - "No Chiado" - " A fazer?"; passámos a ter que estar sempre disponíveis, já que ninguém acredita que deixámos o telefone no carro mesmo quando o deixamos e a ter que responder às mensagens escritas em tempo real - porque normalmente o remetente tem "relatórios de entrega".

Segundo uma grande amiga, " O interesse de um homem mede-se pelo tempo que demora a enviar mensagens"; ou seja, não interessa nada a selecção criteriosa do sítio onde nos leva a jantar ou que se esforce e nos leve a passear  - considerado pelas mulheres o programa perfeito para primeiro date ou que nos leve flores. O que interessa é quanto tempo demorou a enviar mensagens e quantas mensagens se deu ao trabalho de enviar. Quantas mais melhor mas também não podem ser demasiadas porque se não desinteressamo-nos.

Agora, se esta "linguagem" vos parece rara, não experimentem instalar o WhatsAPP. Esta aplicação é um novo mundo, é o controle ao segundo e, no meu ponto de vista, o catalisador para o fim de muitas relações - pelo menos, das minhas! Com esta aplicação de 79 cêntimos podemos ver quando é que a mensagem foi lida, se o destinatário está online, quando é que foi a última vez que se conectou e, o pior, se estamos a ser ignorados. Ou seja, 79 cêntimos com IVA incluído é, em muitos casos, o preço a pagar para acabar com as nossas expectativas.

É sabido que todas queremos um príncipe ou, pelo menos, um homem normal que nos trate como princesas. Por isso, todas queremos homens que nos respondam asap às nossas mensagens e ai daquele que se atreva a deixar-nos sem resposta ou que se ponha off line antes de responder. Nós estamos obviamente a controlar e não vamos gostar de saber que não somos a sua prioridade na vida - mesmo que só nos tenhamos visto 2 vezes! E é isso mesmo que o Whatsapp faz - esfrega-nos na cara que o destinatário está online, que leu a mensagem e não respondeu. É, portanto, um destruidor de ilusões!

Também funciona ao contrário e denuncia-nos quando ignoramos alguém ou quando não nos apetece responder às mensagens! É tramado! É tramado e ainda assim há milhões de pessoas que pagaram 79 cêntimos pelo programa... e outras tantas a quem lhe saiu bastante mais cara a brincadeira!

Como a mim! Custou-me uma amizade... a história do costume... menino convida menina para ir ao cinema e menina não pode, ao 5º dia decide deixar de responder porque já não sabe que desculpa inventar e ao sétimo dia, não se criou o mundo, mas criou-se o caos " vejo que estás online e não me respondes. Quem é que achas que és?"...."Acho que sou parva! Paguei 79 cêntimos para que me controlem e o pior é que penso continuar a ser controlada...."

Special Agent Drama

1 comentário:

  1. Nem mais.... venha a mãe antipática e cúmplice do seu filhinho, "Ele agora não pode atender!" era sempre melhor que estar online e não ter resposta!
    porque o Não pode atender... davas assas à imaginação e às mil desculpas do porquê?? e ainda havia sempre o bode expiatório da mãe, que estava à espera de um telefonema, e como sabia que íamos ficar horas ao telefone, era melhor despachar logo a coisa!

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