7 de dezembro de 2011

Quero ir para minha casa!

Aqui há tempos, tive de passar uma temporada em casa da minha mãe, voltar ao passado, mas sem voltar realmente ao passado. Ou seja, agora com todo o historial que tenho de viver sozinha, ter os meus horários, a minha independência, não ter de saber desde o momento que acordo se vou, ou não, jantar e o que é que vou jantar, tenho o sítio das minhas coisas, que só mudam de lugar quando eu mexo nelas, e não, quando alguém decidiu que aquela gaveta não estava bem para aquelas meias, porque estariam muito melhor na outra.

Não digo que não é espectacular ter o jantar à nossa espera, ainda por cima quando o podemos escolher, parece o sonho de qualquer pessoa. Isto, se pudéssemos decidir 1h antes, quando temos de decidir às 9h. da manhã, todos os dias, tudo muda.

Também é obvio que é óptimo ter alguém que se preocupa em deixar o nosso quarto todos os dias arrumado, a tentar fórmulas diferentes de arrumação perfeita, não acredito sequer que seja possível encontrar isso em qualquer parceiro que venha a escolher para casar, mas quando todos os dias o relógio que deixei ali, de manhã, em cima daquela mesa, está, ao fim do dia, dentro de uma caixinha própria para relógios, e que a roupa que eu já tinha escolhido para levar no dia seguinte, está meticulosamente arrumada em gavetas diferentes e cabides dispersos, é inevitável um ranger de dentes contido de saudade, de voltar para a minha casa.

Claro que passei o dia a martirizar a minha própria cabeça, a dizer mil vezes a mim mesma que a intenção é a melhor, que não tenho nada de que me queixar e que sou é uma mal-agradecida. Mas quando chego a casa e digo que vou voltar a sair e saltam logo uma enxurrada de perguntas,
           – e agora onde vais? Com quem? Chegas tarde? Não descansas! Amanhã tens de acordar a que horas? Então vê lá se depois vais conseguir ir trabalhar a horas…
Volta a sensação de que estou a mais naquele lugar.

As nossas mães ensinam-nos tudo, tratam de nós, estão lá para o que for preciso, não descansam um minuto enquanto não sabem que estamos bem, fazem o melhor que sabem para nos continuar a agradar, e nós, filhas/os desnaturadas/os, não descansamos enquanto não saímos de baixo da asa delas e quando finalmente conseguimos sair, temos uma enorme dificuldade em aguentarmo-nos lá muito tempo.

O que é facto é que acabei por ficar lá, tempo a mais do que o que esperava, e acabei por deixar de parte essa sensação de querer voltar, a todo o momento, para casa e comecei a aproveitar os mimos, a companhia constante e os jantares cheios de calorias.

Mas também quando voltei a pôr os pés na minha casa..., senti aquela sensação de paz, que todos temos, quando voltamos do trabalho ao fim do dia, ou quando nos aninhamos no sofá num domingo preguiçoso, ou até mesmo quando voltamos de uma viagem interminavel. A verdade é que sabe bem, estar na nossa casa. É como um amante que está lá sem fazer barulho, nem perguntas, que nos dá protecção, conforto e que nos atura, em todas as nossas fases, sem se queixar. Está simplesmente lá, à nossa espera, todos os dias.

Passei à porta de uma creche, num desses dias em que estive fora de casa, e ouvi uma criança, que estava ao colo da sua mãe, não teria mais de 2 anos, e chorava – Mãe, quero ir para a minha casa!
Nesse momento, tive a percepção de que o sentimento da nossa casa, vem, desde o dia em que começamos a falar.


Special Agente Naughty

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