18 de dezembro de 2011

Olhares desconhecidos

Já vos aconteceu olhar em volta e o vosso olhar ser como que atraído por outros olhos, que sem saberem porquê focam a vossa atenção, o vosso olhar prende, tenta passar uma mensagem sem palavras e assalta de forma inesperada o espaço privado onde antes descontraíam?

Há sempre um momento, algures durante a nossa vida, em que chocamos, sem querer, num olhar no meio da multidão, um olhar que sobressai, que está a olhar na nossa direcção e que capta a nossa atenção. Dá-nos uma sensação desconfortável e ao mesmo tempo torna-nos especiais e desejados, faz-nos sentir vaidosos, intrigados e curiosos.

A verdade é que sabe bem quando esse momento surge de forma inesperada, sentimos prazer na sedução pessoal que ninguém conhece, que é nosso e daquele desconhecido, que nos atraiu o olhar apenas pela aparência ou pelo descaramento da invasão, e que sem querer, deixámos que os nossos olhares se encontrassem e que entrassem livremente no nosso espaço íntimo.

São sorrisos, palavras e gestos trocados, mensagens enviadas, conhecer o desconhecido, apenas com o olhar penetrande e declarado, que quer ser notado. É a invasão permitida e desejada, a exploração de um sentido que atravessa um espaço e se instala, sem se mexer, demasiado perto de quem é olhado.


Mas e alguém quer dar o passo em frente e meter conversa?

Nem sempre, às vezes é bom manter assim, no ar, um desejo que não se pretende concretizar. Às vezes por medo, medo de nos desiludirmos com o que não conhecemos, medo de não corresponder com o que imaginamos, medo de perder aquele prazer abstracto, que podemos imaginar o que quisermos que a outra pessoa seja, que sente ou deseja, sem a deixar ser ou ter. Outras vezes, os olhares repetem-se e a vontade aumenta, cresce a curiosidade de saber mais do que os gestos e o olhar, de descobrir o que nos faz tentar procurar aqueles olhos entre a multidão. E quando essa dúvida começa a ganhar forma e vontade de ser esclarecida, chega um novo obstáculo: como?

Como conhecer aquele desconhecido? Como meter conversa quando os olhares já são declarados do interesse abstracto que existe? Valerá a pena conhecer ou manter tudo num espaço paralelo onde ninguém pode tocar?

Cada situação terá a sua resposta, mas estes momentos, mesmo que nos possamos desiludir quando ultrapassamos a barreira, mantêm-se pela vida toda, com a mesma curiosidade e a mesma vontade de sermos invadidos, por um estranho no meio da multidão.



Special Agent Naughty

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