30 de março de 2012

Existe o homem certo?

Estava convencida que cada pessoa tinha um género, um tipo de homem com características predefinidas, com os ingredientes certos que davam a receita perfeita para o homem ideal.

Ao longo da vida, vamos tendo padrões familiares, desde o pai, um tio ou um irmão; padrões de amigos que cruzam a nossa vida e que vemos como ícones; de namorados que vão deixando marcas de características que adorámos e de outras que... Nem vê-las!
Essas características vão traçando aquilo a que vamos chamando de "o nosso género".

Assim, da mesma forma que achava que os outros tinham um modelo ideal, eu não fugia à regra.

Fui elaborando uma série de itens que sentia que para mim seriam os certos. Desde características físicas, que se à partida o modelo não encaixasse nem valia a pena dar conversa; características de personalidade, que já sabendo à partida quais eram, bastava fazer algumas perguntas ou introduzir certos temas, que rapidamente o sumo que sairia era revelador se valeria ou não a pena passar para o próximo passo.

A verdade é que quando (achamos que) temos um género definido, o filtro que vamos construindo, com o tempo, fica tão apertado que começa a ser difícil alguma coisa passar através dele. Qualquer início de relação passa a ser feito com testes, de uma forma contida, controlada e totalmente calculada. Todo o caminho que adoptamos é para detectarmos onde está o erro e não para nos deixarmos surpreender.

Confesso que às tantas a minha lista era (ou é) tão elaborada, que já seria necessário fazer um teste com 50 perguntas de respostas com hipóteses entre a) e d) em que cada resposta corresponderia a um determinado valor, que no fim, somado, só teria hipótese de jantar quem tivesse um resultado entre 25,82>25,87. Seria mais fácil tirar o curso de medicina com a especialidade de coloproctologia, em 2 anos.

Agora imaginem quando um dia acordam e percebem que têm diante de vocês uma pessoa que não encaixa em nenhum dos ingredientes ditos "principais" e sem saberem dar resposta, essa pessoa começa a ocupar algum espaço no vosso pensamento. Voltam a olhar para a lista, tentam juntar algumas partes soltas da receita e... Nada! Não bate certo. Em vez de bolo de chocolate, sai panna cotta, o estranho é que gostam na mesma (ou mais).

Assim aconteceu, quando diante de mim estava um homem de corsários, com mais de metade dos boxers à vista, onde espreitavam varias espécies de animais (incluindo macacos e borboletas) e um boné com o Taz, mesmo assim havia qualquer coisa que me fazia continuar a olhar para ele.

À partida nada disto fazia sentido para mim:

1- Não gosto de ver homens de corsários;
2- Não aguento a moda dos boxers de fora e as calças a cair;
3- Bonecadas nos boxers, parece que voltei directamente à minha infância e aos anos 90;
4- Quanto ao boné com o Taz... Sem comentários, ao boné e ao Taz.

Mesmo assim, talvez por ir contra qualquer regra que eu tinha como preestabelecida, a curiosidade era mais forte e acabei por querer perceber o que me levava a não conseguir parar de pensar naquela pessoa tão fora de qualquer contexto.

Aos poucos o preconceito desapareceu e a pessoa que eu teria inicialmente posto de parte, mostrou-se inteligente, cheia de sentido de humor, com uma personalidade altamente vincada, educado e extremamente atencioso.

Aprendi uma lição: não vale a pena criar padrões, o homem perfeito nunca se vai encaixar numa listagem, este pode estar em qualquer parte, mascarado de um género que não é o nosso, com uma vida que nunca imaginámos gostar, rodeados de pessoas onde pensámos não encaixar, com todo um mundo de experiências que apenas excluíamos por não as conhecermos.

Até pode existir um "homem certo", mas não sairá de nenhuma receita!

Special Agent Naughty


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